Opinião/Review - " Segredos de Uma Ilha - O inicio" de Natacha e Bruno Silveira - Chiado Editora


Sinopse:

“As gigantescas pás rodavam com o vento, projectando sombras fantasmagóricas sob o luar, iniciando-se um coro de uivos. Se alguém estivesse observando veria os vultos dos lobisomens enquadrados nesta paisagem mágica, uma celebração do fantástico de rara beleza e perigosidade”.


Opinião



"Segredos de uma Ilha - O início"  é um verdadeiro livro de fantasia e mistério recheado de fachadas e muitas conspirações que vão sendo desmistificadas à medida que a leitura vai fluindo. Tal como o nome o indica, este livro é claramente o impulsionador da narrativa que se avizinha nos próximos volumes, nele temos a apresentação de todas as personagens e de algumas das suas particularidades.
É impossível ficar indiferente a qualquer um dos nossos companheiros de viagem, mesmo os vilões acabam por se tornar uma espécie de vozinha interior que vai ganhando espaço quando a sua aparição começa a ganhar cada vez mais importância no decorrer da história.
Sakura é uma personagem muito complexa, cheia de mistérios e poderes que nos são totalmente desconhecidos e vão aparecendo aos poucos e poucos enquanto passamos as folhas do livro, no entanto, é indiscutível admitir que de todos os intervenientes esta é aquela que se torna mais nossa, não só por ser (em grande parte do livro) a narradora, mas também porque o leitor é incapaz de não criar uma ligeira empatia doentia com ela ao ponto de não aguentar ponderar que a sua missão irá acabar em desgraça.
Santiago e Sven são os irmãos de Sakura e dividem com ela o protagonismos desta história, acompanhando-a e descobrindo-se a si próprios enquanto lutam para encontrar uma solução para o problema que assola a comunidade sobrenatural.
Uma das coisas que de certa forma me fez adiar esta leitura, foi o facto de não haver (inicialmente) um narrado nomeado, isto é, havia sempre um narrador diferente e os autores não nos davam a informação de quem poderia ser. Senti-me um pouco perdida, mas quando finalmente consegui encontrar o meu ponto de viragem não consegui largar mais esta aventura.
O tamanho deste livro pode intimidar um pouco, mas posso dizer-vos que entrando no ritmo nem se dá pelo passar das páginas e, no fundo, é isso que importa, a entrega, a necessidade de não se preocupar em acabar, mas sim em descobrir mais e conhecer melhor cada um dos pormenores que vão sendo deixados ao longo do texto.
Nota-se que existe uma boa simbiose entre os autores deste livro, enquanto leitora não fui capaz de identificar quem escreveu o quê, mas houve um trabalho de pesquisa completo e bastante extenso para a concretização deste livro, nomeadamente, no que toca a pormenores relacionados com carros/motas (que eu desconheço de todo, mas vou aprender a conhecer) e com o mito Arturiano.
Sim, leram bem, este livro oferece ao seu leitor uma pequena viagem sobre alguns elementos relacionados com esta história que tanto tem encantado gerações e que tanto tem sido explorada em livros, séries ou filmes. A meu ver este é um dos pontos fortes deste livro porque sempre gostei desta misticidade associada a Avalon e este livro não usa diretamente a lenda, mas mistura-a e transforma-a num veículo de interesse para tornar esta narrativa numa história bastante intrigante e viciante. 
Como já hábito nas minhas opiniões, não podia deixar de fora as personagens secundárias, por isso, gostaria de vos dizer que de entre as inúmeras entidades retratadas neste livro destaco quatro. Chris e Dante pela sua capacidade de me fazerem chorar a rir com a sua parvoíce, mas também por elevarem a proteção de Sakura à sua própria rivalidade natural, tornando-se assim aliados fortes, divertidos, mas acima de tudo leais aos irmãos Salgueiro. Joshua pela sua presença hipnótica, apesar de não ser de todo um dos personagens mais queridos, acho que acaba por se tornar a narrativa muito sedutora, isto é, toda a sua presença e movimentação acabam por prender o leitor às suas palavras, sempre à espera que a nossa protagonista ceda a uma tentação que tem latente nas suas veias. E por fim, Morgana, devo dizer-vos que em qualquer livro, em qualquer narrativa onde esteja implícita a utilização da lenda de Avalon e Artur eu não consigo gostar da Morgana talvez por ser demasiado trapaceira e neste livro em específico não consegui confiar nela tanto como seria de esperar, para ser sincera apeteceu-me (diversas vezes) entrar no livro e apertar-lhe aquele pescocinho de seda, não me perguntem porquê, mas é sempre uma personagem (seja qual for a descrição, presença dela) que me provoca uma certa desconfiança como se esperasse que a qualquer momento traísse a aliança que forma com os nossos protagonistas.
Gostaria ainda de parabenizar os autores pelas descrições fantásticas da ilha da Madeira, nunca lá fui, mas depois de ler este livro tenho vontade de viajar. Atrevo-me a dizer que em certos momentos este livro se tornou um guia turístico e bastante aprazível aos sentidos do leitor. Esta narrativa é muito sensorial e permite o leitor viajar sem sair do seu cantinho através de descrições detalhadas de lugares, cheiros e sons característicos de cada lugar a visitar. Esta narrativa é ainda rica em alguns elementos de cultura nipónica que comprovam o gosto da autora por esta cultura.
Além da viagem espacial temos também uma pequena viagem musical. Este livro contém uma banda sonora bastante própria, recheadas de referências musicais que vão oferecer ao leitor um ambiente de leitura bastante prazeroso, principalmente se forem fãs de heavy metal, metal ou rock. Sinto apenas que faltou a inserção da música " Animals" dos Maroon 5 que, a meu ver (atenção é só uma sugestão), encaixaria como uma luva em algumas relações descritas no livro.
Para finalizar, devo avisar-vos que se esperam um romance sobrenatural vão cair por terra e ter de esperar pelo desenrolar da nossa história. Os autores fizeram uma jogada de mestre ao colocar Sakura num mundo de homens que a desejam por natureza, paixão ou até mesmo necessidade porque não sabemos ao certo por quem torcer e isso torna toda a história mais interessante, deixando de lado aquela ideia de romance fatela que já adivinhamos no primeiro livro e que sabemos de antemão que vai acabar em felizes para sempre no último suspiro.
Em suma, aconselho-vos vivamente este livro, se gostam de lobisomens, metamorfos, vampiros, feiticeiros e demónios vão deleitar-se com as aventuras desde grupo diversificado e tão unido. Deixem-se levar pela escrita fluída e sensorial destes dois autores e viajem pela Madeira enquanto acompanham as aventuras alucinantes e perigosas de Sakura e companhia.
Estou super ansiosa para ler o segundo e mal posso esperar por ter oportunidade de o fazer.







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