Opinião/Review - "Correntes" de Patrícia Morais

 Olá Novelitos!


Estou de volta com uma nova opinião!





Depois da releitura de "Sombras" e de receber um convite, completamente irrecusável, decidi embarcar na leitura do conto "Correntes" da autora Patrícia Morais.

Ao longo da leitura de "Sombras", como referi na minha opinião, são-nos apresentadas diversas personagens que vão entrelaçando a sua historia com a da nossa protagonista. "E que história é essa?", perguntam vocês, pois bem, a partir do dia 1 de outubro irão ter a oportunidade de conhecer a história de Ada e ficar a saber os motivos que levaram esta jovem a juntar-se à organização Diabolus Venator. 

Ada é uma jovem que foi obrigada a  crescer e amadurecer muito rapidamente devido à espiral degradante em que a sua vida se tornou após o falecimento da mãe.

Esta história de superação é-nos narrada na primeira pessoa e apresenta episódios violentos e angustiantes que prendem o leitor e o obrigam a criar empatia com Ada e os seus irmãos.

Há momentos em que a respiração fica presa nos pulmões e a nossa capacidade de distanciar a nossa realidade da realidade da personagem se torna quase inexistente. Durante esta leitura fui várias vezes invadida por sentimentos de repulsa, impotência e raiva, o que por sua vez, tornou a experiência de leitura assustadoramente real. A minha preocupação com Ada e a sua família crescia a um ritmo descompassado, atrevo-me a dizer que a autora escreveu esta história de uma forma tão crua que me fez questionar-me sobre quais seriam as minhas ações caso, como Tayee, tivesse uma amiga que padecesse de tal infortúnio.

Os temas abordados neste livro são atuais e, infelizmente, cada vez mais comuns. A ausência parental, o alcoolismo e a violência doméstica estão bastante presentes nas páginas deste conto e certamente haverá momentos em que o leitor, tal como eu, se sentirá de tal forma revoltado que acabará por sonhar com estes eventos, tal é a necessidade do seu cérebro compreender e tentar encontrar soluções para os problemas apresentados. Ada sente essa necessidade, a necessidade pulsante de tentar resolver a sua vida e proteger os seus irmãos, mas vê-se numa situação monetária incomportável e num processo judicial que teima em avançar.

À semelhança de "Sombras", existe a presença de seres místicos que em conjunto com a parte humana e social da novela irão ajudar a desconstruir e impulsionar o enredo. Para os mais novatos neste género de temática, a autora disponibiliza, no final, um glossário de criaturas para auxiliar na imaginação, materialização e conhecimento destes seres místicos cheios de encantos e características assustadoramente criativas e lendárias.

Tide Springs é uma cidade pacata, repleta de uma misticidade que nem todos querem ou são capazes de compreender e ,por isso, parece que a maioria dos seus habitantes vive alheia aos problemas que só os mais loucos parecem prestar atenção. Ada sente-se como uma dessas loucas quando começa a questionar-se sobre a veracidade daquilo que ouve ou vê e é nesse momento que compreende a sua vocação.

Ada é, sem dúvida, a personagem mais calma e maternal que este mundo mágico de Patrícia Morais nos apresenta, é uma jovem destemida que procura sempre ver o melhor nos outros e acima de tudo é das poucas entidades que julga justamente as atitudes e comportamentos dos outros habitantes da mansão a quem se orgulha de chamar não só companheiros, mas também amigos. É extremamente protetora, dotada de uma inteligência bastante aguçada, curiosa por natureza, cheia de vida, mas ao mesmo tempo tem uma aura sombria porque carrega nos ombros a dor da tragédia que a levou a abandonar tudo e juntar-se a esta organização.

"Correntes" é uma short story que nos enriquece, a escrita é fluída e acaba por fazer com a que experiência de leitura ocorra a um ritmo alucinante, não deixando grande margem para ocuparmos a nossa mente com outros assuntos.

Gostei imenso desta leitura, principalmente pelo facto de ter conseguido criar esta ligação de amizade e preocupação com Ada, mas também porque este pequeno conto me fez ter uma visão um bocadinho mais ampla sobre os motivos que poderão ou não levar as diversas personagens a seguir o caminho que Lilly seguiu. 

Assim sendo, só posso desejar que haja mais oportunidades de explorar as histórias das outras personagens de uma forma tão intima como a que a autora escolheu para nos dar a conhecer Ada.

Espero que em breve tenhamos novidades!


Leiam-no e partilhem-nos com os vossos amigos, vale a pena, mesmo que seja para voltar a ter aquela sensação mágica de se ser absorvida/o por uma história!


Deixo aqui a música que me acompanhou nesta leitura:



Podem adquirir este conto através da amazon, deixo aqui um dos links possíveis:

Correntes na amazon

Um beijinho e boas leituras!





Opinião/Review - "Sombras" de Patrícia Morais

 



Olá novelitos!

Já há algum tempo que estava a ponderar fazer a releitura deste livro e não fui capaz de adiar mais este evento.

Quando o li pela primeira vez, optei por não partilhar uma opinião, até porque estava numa fase menos boa da minha vida e não me sentia capaz de o fazer, aliás atrevo-me a dizer que o li de forma tão leviana que não me recordava de absolutamente nada da história.

"Sombras" é o primeiro livro de uma trilogia de ficção paranormal que nos brinda também com um pouco de romance.
Quem está familiarizado com os nomes das mais diversas criaturas sobrenaturais provavelmente achará o livro ligeiramente aborrecido, grande parte da narrativa é praticamente um glossário gráfico e explicativo destes seres, no entanto, se o leitor for um leigo neste tema (como eu) irá encontrar nestas páginas um mundo de descobertas fascinantes que em tudo irão enriquecer a sua cultura no que toca a mitologia ou folclore. Aprendi imenso sobre seres que nem sequer sabia que existiam (confesso, fui pesquisar alguns nomes no google, sou curiosa e não o consegui evitar) e que provavelmente não iria conhecer se optasse por não ler o livro com a atenção devida.
Nota-se claramente que a autora tem um conhecimento bastante abrangente sobre o tema e partilha-o com o leitor de forma simples e generosa.
Achei inteligente a forma como a autora interligou as ações passadas e presentes, recorrendo a uma pequena introdução que nos leva em seguida para uma analepse engenhosamente colocada no texto de uma forma tão subtil que o salto temporal não é tão abrupto para quem está a ler.
Confesso que inicialmente foi difícil habituar-me a todas as personagens que habitam a mansão Venator, eram demasiadas e todas com características bastante específicas para conseguir memorizar rapidamente todos os nomes e personalidades que iam sendo descritas. A multiculturalidade presente naquela mansão oferece ao leitor uma visão mais universal sobre o mundo e torna a leitura mais prazerosa, uma vez que vamos tendo acesso a pequenos rasgos dessa diferença cultural entre os habitantes.
Tudo é explicado ao leitor de forma meticulosa, desde o funcionamento da organização de caçadores, às regras, treinos e especificidades de cada clã que coabita naquela localidade ou se encontra espalhado pelo mundo criado pela autora.
Lilly Ashton é uma jovem impulsiva que tem a coragem de metamorfizar a sua vida em função das tragédias e desafios que enfrenta. Acaba por ser um pouco infantil em alguns momentos ou decisões tomadas, mas a sua capacidade de adaptação e maturação acabam por permitir que o leitor tenha vontade de desculpar ou tentar compreender o seu ponto de vista.
Não posso dizer que gostei de todas as personagens, provavelmente vou ser a única a dizê-lo, mas não consigo suportar Louis. Acaba por se tornar uma personagem demasiado aborrecida e confesso que até chegar ao plot final só me apetecia passar todas as suas partes à frente, definitivamente, podemos dizer que vampiros não são a minha praia. Provavelmente será das personagens mais amadas da história, aquela que fará todos suspirarem pela sua elegância, no entanto, comigo isso não funcionou.
Por outro lado, posso dizer que adorei Richard, Marion e Gabriel, sem dúvida que se tornaram no meu trio de personagens favorito. Todos completamente diferentes uns dos outros, mas quando juntos é impossível não soltar uma valente gargalhada ou ter vontade de entrar na história e ser amiga/companheira de luta deles também.
De salientar que o romance não é de todo o tema principal deste livro, por isso, se esperam um livro ao estilo "Twilight", esqueçam, não o vão encontrar perdido nestas páginas.
Gostei imenso da forma como o romance foi conduzido e entrelaçado com a narrativa atual de forma natural, havendo pequenos apontamentos da sua existência, mas sem retirar o foco principal da história.
Achei que o enredo se foi desenrolando lentamente, ritmo este que me pareceu perfeitamente adequado ao primeiro livro de uma trilogia que claramente requer algum tempo para que todo o mundo nos seja apresentado e construído. Trata-se claramente de um livro introdutório, com todas as características que o primeiro livro de uma série/trilogia deve ter, achei apenas que o levantar do véu e a apresentação formal de um vilão solo e não coletivo demorou um bocadinho mais do que eu esperava. Sentia-me um pouco perdida, no entanto, creio que terá sido mesmo essa a intenção da autora, fazer o leitor vivenciar diretamente todas as emoções e descobertas que Lilly ia sentido e tendo conhecimento ao mesmo tempo que a personagem as ia vivendo, isto é, não há nenhum momento em que a autora nos diga algo que a nossa protagonista não saiba, não existe um narrador na terceira pessoa que permita ter uma visão global da história e não centrada na personagem principal. Não me estou a queixar, até porque achei a experiência bastante interessante, apenas gostaria que houvesse uma descoberta mais antecipada da parte vil da história.
Gostaria de mencionar que a escrita da autora é completamente viciante, os pequenos apartes, as tiradas hilariantes a meio de momentos de tensão que muitas vezes me fizeram sentir um aperto no coração, tornaram esta leitura numa das minhas leituras/releituras favoritas deste ano.
"Sombras" é um livro para os amantes do sobrenatural, mas também para aqueles leitores curiosos que não se importam de mergulhar de cabeça naquelas histórias peculiares que nem todos têm coragem de explorar.

Não podia estar mais feliz por ter dado uma segunda oportunidade a este livro e mal posso esperar para voltar a este mundo! ;)

Aproveito para deixar aqui a música que me acompanhou e que me pareceu, após leitura atenta da letra, adequada ao enredo em que mergulhei nesta leitura.




Um beijinho e boas leituras!

Opinião/Review - O Príncipe Cruel de Holly Black - Topseller



Sinopse

Passaram dez anos desde que Jude e as irmãs foram raptadas pelo assassino dos seus pais e levadas para Faerie — o reino das fadas. Jude sente um verdadeiro fascínio pela beleza destes seres mágicos e imortais, mesmo sabendo que também são malévolos e impiedosos, e continua a sonhar em pertencer a este mundo encantado.

Mas o povo das fadas despreza mortais e, para se tornar cavaleira e receber um lugar na Corte, Jude tem de arriscar a sua mortalidade e desafiar o príncipe Cardan, o filho mais novo e mais cruel do Rei Altíssimo. O príncipe odeia Jude e tudo fará para se ver livre dela. Tudo!

É então que Jude se envolve nas intrigas e atividades de espionagem do palácio, acabando por descobrir o seu próprio talento para derramar sangue. E quando o seu sonho está prestes a tornar-se realidade, o destino de Faerie fica por um fio, obrigando Jude a fazer uma inesperada e perigosa aliança para salvar as irmãs e o reino que tanto a rejeita.

As fadas não são de confiança,
Mesmo quando dizem a verdade…

Opinião

O "Príncipe Cruel" de Holly Black foi uma agradável surpresa e rapidamente se tornou numa leitura compulsiva que fui incapaz de largar até o terminar.
Para quem não está habituado às narrativas excessivamente descritivas de mundos, reinos ou criaturas místicas poderá encontrar nesta estória alguns entraves, uma vez que, se encontra recheada de descrições extensas, ricas ou horripilantes que permitem ao leitor uma experiência de exploração sensorial de todos os espaços, acontecimentos e criaturas.
Holly Black deita por terra todas as ideias preconcebidas que podemos ter sobre os seres mágicos que habitam Faerie. Aquilo que pensei ser uma terra de magia e beleza revelou-se um enredo de traição e conspiração.
Os destinos das personagens entrelaçam-se ao longo da narrativa de uma forma que nos vai sendo desvendada pouco a pouco através de pequenos pormenores que a autora vai escondendo aqui e ali com o intuito de despertar o nosso sentido crítico e capacidade de inferência. Para os mais distraídos, alguma informação, poderá passar ao lado e surpreender à medida que o véu vai sendo levantado, no entanto, para o leitor mais experiente esta será a confirmação das suas desconfianças.
As personagens são misteriosas e a autora consegue provocar-nos vários sentimentos relativos à sua presença.
Jude é destemida, no entanto, a sua imaturidade poderá sair-lhe cara. A sua capacidade táctica e estratégica surpreenderam-me bastante. Injustamente retirada ao mundo mortal, não se deixa intimidar pelos seres mágicos que a perseguem na escola devido à sua condição mortal.
Cardan é uma personagem bastante intrigante, inicialmente achei-o puramente maléfico, mas à medida que me fui embrenhando na estória, essa primeira impressão foi-se dissolvendo e fui-me encantando pelo seu interior espinhoso.
Juntos são um desastre, odeiam-se na mesma conta e medida, mas é impossível não sermos conquistados pela forma destemida com que Jude lida com estes sentimentos e Cardan se finge impassível simplesmente para a irritar e desafiar ainda mais.
Madoc foi sem dúvida uma das minhas personagens favoritas devido à sua dualidade. Creio que luta até contra si mesmo além do campo de batalha. A sua personalidade sanguinária aliada à sua tentativa de parecer um pai extremoso torna fácil o crescendo de ódio e admiração que o leitor poderá sentir ao se perceber da sua inteligência e vulnerabilidade.
As restantes personagens secundárias dividem-me, se por um lado as acho totalmente necessárias, por outro lado encontro duas ou três que podiam simplesmente nem existir quanto mais dialogar e interagir com as restantes.
Há imensa informação que podia ter sido parcialmente omitida ou suprimida, no entanto, compreendo que este livro no seu ato introdutório a esta trilogia beneficia, em parte, desta excessividade.
"O Príncipe Cruel" parece-me um título um tanto ou quanto enganador. Terminei o livro a questionar-me quem afinal merece este título de "Cruel", no entanto, creio que terá sido exactamente essa a intenção da autora, confundir-nos e fazer-nos repensar vezes sem conta quem merece ser aclamado como sendo cruel e quem no fundo será coroado como vilão desta estória.
A edição publicada pela Topseller é extremamente bonita, cheia de pequenos apontamentos florais no início de cada capítulo que, mais uma vez, iludem o leitor para que este sinta que vai entrar num verdadeiro conto de fadas cheio de magia, doçura e lealdade.
Este livro foi fenomenal e mal posso esperar pela sua continuação!