Opinião - "Amor, Traição e Kizomba" de Adelaide Miranda - Capital Books

Olá Novelitos!!!

Após uma ausência bem acentuada de opiniões venho finalmente retomar o ritmo das mesmas.

Decidi iniciar a época de verão com um livro bem quente e ritmado, falo claro de Amor, Traição e Kizomba da autora Adelaide Miranda.



Sinopse:

David sofre com um casamento à beira do fracasso, desgastado pela impossibilidade de terem filhos.

Desesperado para reconquistar a sua esposa, inscreve ambos numa escola de kizomba, na esperança de que a antiga paixão da sua mulher pela dança faça o milagre de reaproximá-los.

Mas David cedo se apercebe que a batalha que trava é mais complicada do que julgava.

Será que a kizomba vai reaproximar o casal ou será que o antídoto se vai tornar, afinal, em veneno?

Opinião

Quando recebi este livro na minha caixa de correio senti um misto de emoções. Foi uma surpresa agradável ir à caixa de correio e encontrar lá este exemplar, até porque já há imenso tempo que queria ter a oportunidade de ler (fisicamente) uma obra desta autora, no entanto, senti-me de certa forma desconfortável com o facto de a narrativa se desenrolar num ambiente maioritariamente preenchido pela indústria musical ligada à Kizomba. 
Quem me conhece sabe que tenho dois pés esquerdos e talvez por isso me deixe intimidar por ritmos musicais que se caracterizem pela exploração e execução de dança de pares. Parti completamente para o desconhecido, se me perguntassem se eu sabia o que era estar numa aula de Kizomba eu dizia logo que estavam doidos, no entanto, devo dizer-vos que o desenrolar desta narrativa acaba por despertar algum interesse em participar numa ou simplesmente espreitar para ver se o ambiente é realmente tão leve e despreocupado.
Amor. Traição e Kizomba centra-se, principalmente, na relação conjugal das duas personagens principais, David e Deborah, que vêem o seu casamento a atravessar uma fase bastante conturbada devido a alguns acontecimentos que vamos descobrindo ao longo do livro (não vos quero dar spoillers).
Devo dizer-vos que o facto de a narrativa se desenrolar exclusivamente pela perspectiva masculina da relação se tornou de certa forma um entrave à criação de empatia com as personagens principais, isto é, senti que se o livro fosse narrado na 3ª pessoa não teriam surgido tantas dúvidas sobre o enredo e a personalidade das personagens principais.
David é uma personagem que foi criada para transmitir ao leitor todas as inseguranças que a incerteza e ausência de comunicação numa relação que já se estende há 20 anos podem provocar. Senti que esta personagem vivia constantemente com medo de se afirmar por temer perder aquela que sempre foi a sua mulher de sonho e talvez por isso eu tenha acabado por me irritar tantas vezes com ele durante a leitura. Houve uma ligeira vontade assassina de entrar nas páginas do livro e abanar a personagem, pareceu-me tantas vezes atónico e manipulável que acabou por me fazer torcer para que tudo desse errado e ele tivesse um click para se afirmar na sua própria história.
Do outro lado da moeda temos Deborah e posso dizer-vos que não consigo encontrar justificação para o tipo de pessoa que esta personagem se mostrou ser. Entendo perfeitamente que tantas dores acabam por retorcer a nossa personalidade e nos tornem de certa forma mais frios, calculistas e solitários, mas esta mulher supera qualquer limite. Arrisco-me a caracteriza-la como inconstante ou até mesmo bipolar. Havia nela uma certa maldade, uma certa necessidade de constantemente humilhar e repisar o seu companheiro e sinceramente mesmo após o clímax do livro e de toda a mudança que a autora operou na sua construção e fluidez, ainda hoje, eu não consigo gostar minimamente dela. Deborah é uma mulher que facilmente explode sem olhar ao que a rodeia, isto é, constantemente assistimos a explosões de raiva que vão atingir diretamente David ao ponto de o fazer sentir como um nada e pior que isso, é não haver a mínima preocupação da mesma em minimizar os possíveis estragos que possa causar, no entanto, passada a fúria corre para os braços do marido e pede desculpa lavada em lágrimas. Isto foi dos pontos mais negativos que encontrei no livro, esta bipolaridade na sua personalidade fez com que eu não acreditasse que realmente se tratava simplesmente de uma mulher sofrida que não conseguia ultrapassar as suas mágoas, não senti amor, não senti qualquer tipo de arrependimento nas suas ações, apenas a consigo classificar como bipolar e manipuladora. Tenho a certeza que a autora procurou dar várias facetas à personagem de forma a que o leitor conseguisse visualizar toda a dor que a rodeava e até que ponto um ser humano pode ir para se sentir livre e sarado, no entanto, não consegui sentir a redenção que os últimos acontecimentos da história lhe foram atribuindo.
Relativamente às personagens secundárias tenho a dizer que em parte gostei bastante delas, tirando claro as que é suposto não gostarmos, no entanto, penso que precisavam de ser melhor exploradas para que o leitor conseguisse criar uma relação com as mesmas e esperar que a sua aparição mexesse realmente com a trama. De salientar que todas as personagens apresentam uma construção sólida, percebe-se bem quais são as intenções da autora, no entanto, a sua exploração e enquadramento não foram totalmente bem conseguidos e isso acabou por criar em mim uma certa desconfiança em relação às personagens secundárias e um misto de amor/ódio em relação às atitudes das principais.
Como referi no inicio desta opinião, o livro desenrola-se num ambiente proliferado pelos ritmos quentes da Kizomba e para quem realmente aprecia este tipo de música é capaz de encontrar neste pequeno livrinho um escape para a sua imaginação mais musicada. As descrições são feitas de forma a que o leitor tenha vontade de experimentar e permitem uma visão não só intrínseca mas também periférica de tudo o que se passa em redor dos pares que partilham a mesma sala de ensaios  o que permite que apesar de estarmos sempre a vislumbrar o desenrolar da história pelo olhar de David sejamos capazes de inferir sobre o que estará a passar pela cabeça dos outros personagens através da descrição, principalmente, da sua linguagem corporal.
Gostaria de fazer menção ao cuidado que a autora teve ao fazer referência a obras de autores portugueses, nomeadamente Ana Silvestre, uma vez que acabou por permitir a divulgação do trabalho destes colegas através da leitura do seu próprio livro. Outra curiosidade que gostaria de mencionar é o facto de este livro ser uma verdadeira Playlist de Kizomba. Vários são os momentos na narrativa onde a autora brinda o leitor com uma sugestão sonora para os acontecimentos narrados e isso acaba por permitir que o leitor se sinta enquadrado na história e sinta mais a essência da dança de Kizomba. Mais uma vez são-nos apresentados artistas e grupos reais, alguns bastantes conhecidos do público como Badoxa e outros mais anónimos que com a leitura deste livro acabam por se tornar conhecidos de quem folheia este livro, afinal é impossível lê-lo sem ter curiosidade de ouvir a música sugerida e imaginar a cena narrada na nossa cabeça.
Para finalizar, gostaria ainda de dizer que adorei a escrita da autora, muito leve, fluída e acima de tudo correta. Poucos foram os erros encontrados neste livro e mesmo os que foram aparecendo tratavam-me maioritariamente de gralhas editoriais.
Só tenho a apontar que o final se desenrolou muito rápido e o ritmo de leitura quebrou-se um pouco a 2 capítulos do fim, principalmente porque senti que houve pouco distanciamento entre o problema, a sua resolução e posterior redenção.
Amor, Traição e Kizomba é um livro para quem gosta de se deixar levar por ritmos quentes e que não tem medo de se aventurar pelo desconhecido.

O livro conta ainda com uma música que foi composta para servir como sua banda sonora, deixo-vos aqui o audio, mas dou-vos um pequeno conselho: oiçam apenas quando passaram do meio do livro ou mesmo no seu final. A música enquadra-se perfeitamente neste enredo e acabo por levantar um pouquinho o pano.




Resta-me só agradecer à Adelaide pela sua amabilidade e generosidade e desejar-vos a vocês umas boas leituras :p Espero que este livro venha a fazer parte de algumas das vossas estantes ;)

Beijinho e boas leituras*





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