Há cerca de um mês adquiri alguns volumes do manga Ao Haru Ride da mangaka Io Sakisaka. Contrariamente ao que possam pensar, este não é o meu primeiro contacto com esta autora/ilustradora nem com o manga em questão, no entanto, esta edição brasileira está ainda mais bonita que a original no que toca à apresentação/tamanho dos volumes.
Como poderão ver nas imagens abaixo estas edições são ligeiramente maiores que as japonesas/inglesas e as suas lombadas são muito mais bonitas (na minha opinião).
Como poderão ver nas imagens abaixo estas edições são ligeiramente maiores que as japonesas/inglesas e as suas lombadas são muito mais bonitas (na minha opinião).
Io Sakisaka cujo trabalho nos maravilha simplesmente por estarmos a olhar para as imagens, atrevo-me mesmo a dizer que conseguiríamos quase adivinhar os diálogos a partir das mesmas. Há um cuidado por parte da autora em marcar bem as expressões de cada personagem, bem como a distribuição espacial e as interacções entre os diferentes personagens.
Ao longo dos volumes de Ao haru ride vamos conhecendo a história de Futaba e Kou que vão tropeçando um no outro em diferentes momentos da sua adolescência.
Achei interessante que a autora tivesse mostrado as alterações de personalidade, crescimento e maturação de cada um destes personagens que ao longo dos volumes se vão questionando sobre a forma como se devem sentir em relação um ao outro e ao que os rodeia.
Gostaria ainda de frisar que apesar deste manga se debruçar sobre os típicos dramas da adolescência e as suas consequências, não deixa de ser divertido e de proporcionar momentos de um certo conforto ao leitor. As emoções das personagens estão tão bem construídas que é impossível o leitor não criar uma relação de proximidade com todas, sendo elas as principais, favoritas ou até mesmo as que menos se gosta.
Volumes:
Relativamente ao 1º volume deste manga, há que dizer que se trata da introdução da história, desde a analepse até ao momento presente, nele temos a apresentação de quase todas as personagens, sendo que algumas estão apenas referidas ou comentadas pelo ponto de vista da Futaba que é a nossa narradora.
A minha edição vinha com um marcador que faz publicidade à publicação do manga de um lado e do outro mostra a lombada de cada volume.
No 2º volume preocupamo-nos mais em seguir a evolução do conceito amizade verdadeira versus amizade por conveniência. Quem já leu o manga entenderá o que quis dizer. Há um grande foco na aprendizagem de lições afetivas muitas vezes despoletada por coincidências, rumores ou uma abordagem mais rispida de personagem para personagem. Este volume deixa um pouco de lado o romance Futaba/Kou e deixa-nos vislumbrar um pouco das outras personagens secundárias que auxiliam e problematizam a relação de ambos como a Yuuri , a Murao, o Kominato e o irmão de Kou.
Ao longos dos dois volumes seguintes vamos sendo bombardeados com as constantes inseguranças da nossa protagonista em relação a tudo o que se passa na sua vida, nas suas relações e na sua rotina, acabando por entrar definitivamente no enredo da história e em todo aquele ambiente que Io Sakisaka nos vai apresentando a cada virar de página.
E sim novelitos, Ao haru ride segue quase todos os clichés que poderão espera encontrar num shoujo manga, mas a isso eu só tenho a dizer : " A ideia primordial alguém a teve, mas o importante é que cada autor/a que venha depois seja capaz de a desenvolver, dar-lhe forma e atribuir-lhe significado". Visto que Ao haru ride entra nesse grupo de cliché com sentido e bem desenvolvido, desculpem, mas vou afirmar-me uma viciada (saudável) nesta maravilhosa história de amor, amizade, auto conhecimento, drama e alguma palhaçada, afinal o que seria da vida sem uma pitada disto e daquilo?
Personagens:
Poderia estar aqui a apresentar-vos todas as personagens, mas opto neste momento por transmitir-vos o que senti quando me confrontei com a sua presença e a sua movimentação ao longo da história.
A nossa protagonista Yoshioka Futaba cria em mim um sentimento de incerteza, isto é, gosto bastante da sua presença e da sua personalidade porque se estivesse a ler o manga com 15-16 anos provavelmente me identificaria, em certos pontos, com ela, no entanto, acho que lhe falta uma certa noção de assertividade que lhe faz falta quando precisa de delinear o que precisa do que realmente é proveitoso e bom para si mesma, isto é, há uma constante procura para agradar ou desagradar porque simplesmente se quer integrar a todo o custo num grupo, penso que nos primeiros capítulos ela se encontra completamente desorientada porque está a adoptar uma postura que não é, de todo, a que gostaria ou naturalmente teria.
Contrariamente a algumas personagens quase figurantes e a muitas pessoas da blogoesfera e "otakuesfera" que pensam que a Makita Yuuri é uma personagem chatinha, falsa e que só está lá para empatar, eu considero-a uma personagem secundária bastante importante, não posso revelar concretamente o porquê desta minha afirmação, caso contrário estaria a dar um valente spoiler, mas posso dizer-vos que se calhar se ela fosse de outra forma não teríamos uma evolução tão drástica na personalidade da protagonista, afinal foi preciso a aparição e aproximação desta personagem para que a Futaba não tomasse por garantida a resolução do seu problema relacional e de comunicação com o Kou. Gosto bastante do paralelismo que existe entre a Yuuri e todos os outros estudantes, principalmente dentro da mesquinhice que pode ser uma turma de secundário semelhante às dos nosso dias.
A Shuko Murao pode ser a representação oposta da Futaba, aquela estudante que até é capaz de nos assustar porque anda sempre calada, fechada no seu mundo e constantemente sozinha, no entanto, acho interessante a aprendizagem que ela vai fazendo ao longo dos volumes que li, principalmente no que toca ao significado de amigo e de confiança entre pares, isto é, há uma evolução da socialização entre ela e os restantes personagens mantendo à margem e em segredo a sua paixão.
Aya Kominato é sem dúvida a personagem mais estranha, extrovertida e divertida de toda a história, tenho a sensação que o consigo ouvir a gritar eufórico de cada vez que o vejo retratado nesse tipo de acção, é o típico colega que quando chega faz questão de marcar a sua chegada, atrevo-me mesmo a pensar que a autora o construiu e passou para o papel para ter uma função balanceadora entre o drama e a comédia atribuindo a este shoujo uma estrutura mais dinâmica.
Deixei o Tanaka Kou para o fim de propósito, não só por ser o meu personagem favorito, mas também por marcar a sua posição de protagonista de uma forma ativa, isto é, este personagem gere intencionalmente a vida e o rumo da história a partir de si mesmo. Este personagem dá-me a sensação de que a sua transformação foi construída para puxar pelas emoções mais profundas de cada um dos outros intervenientes. Muita gente queixa-se que ele é quase bipolar, inclusive a protagonista, no entanto, eu gosto de o ver como alguém que se mascara para não se dar a conhecer, inclusive acho que se esforça tanto para provar que não é o mesmo que o seu subconsciente o leva a agir contrariamente ao que afirma e profetiza.
No fundo é preciso salientar que de um conjunto de pessoas tão diferentes e com tanto para aprender uns com os outros só poderiam sair duas coisas, um autêntico circo para deleite e diversão do leitor ou um exemplo perfeito de construção de amizades improváveis que se vão deixando complementar pelas adversidades e vitórias que vão alcançando.
Deixo-vos aqui uma imagem do anime que também está retratada no manga que ilustra bem o que acima referi:
Exemplos de páginas dos diferentes volumes (nota: as imagens não pertencem aos mesmos volumes apesar de estarem agrupadas 2 as 2):
Para não vos aborrecer muito fiz uma pequena montagem de algumas das páginas/momentos que mais gostei destes primeiros 4 volumes.
Como podem reparar a linha desta mangaka é extremamente limpa e o cuidado que tem em marcar as emoções nos rostos e movimentos de cada personagem é extrema. Gosto bastante deste estilo de ilustração e, pelo que li nas notinhas deixadas pela autora é dos que mais trabalho dá por causa do jogo de cores e tonalidades com o brilho que é pretendido para, por exemplo, criar o efeito que podem observar no cabelo do Kou. Ainda que o texto esteja claramente em Português do Brasil não tenho qualquer dificuldade em seguir a história ou sentido desconforto com o idioma.
Considerações Finais:
Após a releitura destes primeiros volumes posso dizer que Ao haru ride é um manga para qualquer idade e não se perde nada em dar-lhe uma oportunidade porque se aproxima muito de uma realidade que vivemos ou poderemos vir a viver (caso ainda não tenhamos passado por esta fase da parvalheira). A transmissão de valores e a constante preocupação em atribuir a todas situações um significado, solução ou reflexão permite uma visão global e mais introspectiva para o leitor porque o obriga a relembrar-se do seu passado ou a preparar-se para o futuro que se avizinha, afinal a articulação da realidade com a ficção permite-nos sempre ver de fora o que não conseguimos ver quando a situação se passa connosco.
Recomendo a 100% a leitura deste manga e a visualização do anime (se bem que o anime não me convenceu muito, mas se um dia quiserem também me posso debruçar sobre esse conteúdo noutro post) porque vão ter vontade de chorar, rir e de entrar para a vinheta só para ter o gosto de sentir na pele aquelas boas vibrações ou dar um valente par de estalos para que certos personagens acordem para a vida e deixem de empatar a história!
Mal posso esperar para ler o 5º volume, enquanto não o consigo parece-me que vou alinhar numa revisão do anime ou quiçá debruçar-me sobre outro manga desta autora.
Para finalizar vou deixar-vos aqui o poster e o video da opening do anime se tiverem curiosidade de ir espreitar :)
Ao haru ride
13 episódios
Até ao próximo post :p Boas leituras! Beijinho